Repasso aos interessados...fonte:
www.karatedasmeninas.com.br"Treino no Japão e o Dojo Kun
Sensei Cristovão Vilaça Pinto Sócio-Fundador da ASKP, 6º DAN Karate Shotokan JKA. Instrutor-Chefe do Hoitsugan Karate-Do Portugal.
Por: Cristóvão Vilaça Pinto
A minha estreia com o Dojo kun (DK) foi no Japão, na velha JKA em Suidobashi (1972). Recentemente chegado ao Japão onde tudo era estranho, freqüentava então a minha primeira aula, e, já no final, o professor (sensei Kanazawa), disse umas palavras em japonês cujo significado desconhecia mas que depressa aprendi - kyo warimasu = hoje terminou. A estas palavras responderam de imediato todos os presentes com altos OSS's.
Sem ter tido tempo para me refazer desta surpresa logo um outro grito se ouviu; este agora vindo de um dos sujeitos que na rotação de parceiros durante o treino, tinha estado a "treinar comigo"; vim a saber depois que era o sempai do Dojo (o aluno mais antigo e mais graduado) e o que ele disse foi, rei guetsu = alinhar para a saudação.
A esta voz de comando cuja obediência geral faria corar de vergonha qualquer pára-quedista, toda a turma correu a alinhar por graduações empurrando todos os que não cumpriam a hierarquia das graduações. Já na posição de seza, a tal que os ocidentais teimam em traduzir como "ajoelhar" e que nos livros traduzidos para inglês é também erroneamente traduzido como "kneeling ou kneel down", seguiu-se um período de breves segundos em absoluto silêncio... Impressionante o contraste! Confesso que aquele sossego e repouso me fazia sentir muito bem. Não fazia a menor idéia de quanto iria durar, tão pouco sabia o que vinha a seguir, mas algo de estranho teria de ser...Ou não fosse eu um ignorante!
Foi então que tive o meu primeiro contacto com a pronunciação do Dojo Kun.
O sempai a que atrás me referi, num tom de voz com impressionante intensidade, dita a primeira máxima do Dk, seguindo-se-lhe toda a turma... Cada um parecia querer gritar mais alto que os demais. Assim foi na pronunciação das restantes quatro máximas. Devo confessar que me arrepiei. Senti um misto de emoção e orgulho por integrar aquele grupo onde a força e a energia estavam patentes em cada gesto, em cada palavra, em cada olhar. De fato, aquilo que ali ouvira nada tinha de semelhança com uma reza.
Esta breve história acerca uma das minhas vivências no Karate do Japão dos anos 70, tem por fim facilitar a compreensão das diferenças entre o "rezar de ladainha" e a pronunciação do Dk.
É que o verdadeiro "rezar de ladainha" pronuncia-se numa repetição monocórdica com predominante trabalho gutural e com uma ínfima participação do hara = abdómen; ao contrário, a pronunciação do Dk é produto duma vigorosa "explosão" localizada no hara, cabendo à garganta e à boca acentuar o ênfase nas vogais e nas consoantes. São pronunciações e significações diametralmente opostas. Quem as não conhece pode eventualmente ser levado a pensar que existem semelhanças.
É compreensível incorrermos em erros de análise sempre que desconhecemos a orígens das coisas que nos são dadas observar. Nos primeiros tempos da minha estadia no Japão, freqüentes vezes fui corrigido por incorrer em erros de interpretação... Pura ignorância. A encerrar este tema do Dk acrescento apenas que, em ambos os casos, não basta enunciá-los para interiorizarmos os princípios contidos nas palavras, sejam elas proferidas gutural ou abdominalmente.
Relativamente à posição em que dizemos o Dk - seza (aquela que alguns ocidentais chamam de "posição de joelhos" ), ela deve ser entendida como uma posição normal no contexto da cultura e dos hábitos japoneses. Apesar de hoje em dia no Japão o uso da cadeira ser já coisa normal, não foi abolido o hábito de se sentarem da forma tradicional. Quero com isto dizer que a tal postura em que se diz o Dk não é uma posição de joelhos, mas sim uma posição de sentado.
O ato de ajoelhar nada tem a ver com a posição de seza. Esta posição ainda hoje assumida na cultura oriental, para os mais diversos momentos (em repouso, às refeições, em convívio, etc.), corresponde no mundo ocidental à posição de sentado no chão ou numa cadeira. (suarú = sentar; Ó suaté kudasai = sente-se por favor). Se assim não fosse, quem visitasse o Japão há 30 anos atrás, diria que eles passavam o dia a rezar.
Descansem portanto os mais céticos pois o ato religioso de "ajoelhar" não tem qualquer cabimento no treino de Karate. Não se trata de uma religião, logo, não há espaço para rezas. Não obstante, todo e qualquer karateca pode, se assim o entender, escolher a sua igreja para, aí sim, se ajoelhar e rezar.
Ajoelhar é, enquanto postura corporal, quando todo o corpo, com excepção das pernas (abaixo do joelho), cai total e verticalmente sobre os joelhos. Talvez por isso, aqueles que raramente se ajoelham, quando o fazem, sentem mais dor nos joelhos do que nos pés. Na posição de seza, a postura corporal define-se pelo cair do tronco verticalmente sobre os pés, com flexão total dos joelhos e parcial da anca. Assim, aqueles que raramente se sentam em seza sentem nesta posição mais dor nos pés do que nos joelhos.
DOJO KUN
1. JINKAKU KANSEINI TSUTÓ MURUKOTÓ( CARÁCTER )
Interpretando um dos mais significativos ensinamentos do fundador do Karate moderno Guishim Funakoshi – A finalidade do Karate não reside na vitoria ou na derrota, mas sim, no aperfeiçoamento do carácter dos seus praticantes.
2. MAKOTO NO MICHYO MAMURUKOTÓ( SINCERIDADE )
O treino de Karate deve ser um acto de sinceridade. A ausência de sinceridade durante um treino impede o aluno de atingir os objectivos propostos pelo professor.
3. DOORIOKU NO SEISHIN OYASHINAUKOTÓ( ESFORÇO )
O comportamento humano em situações de adversidade e/ou de fadiga é fortemente influenciado por medos ou quebras volitivas, quase sempre reveladoras de fragilidades do foro psíquico.
4. REIGUIÓ ÓMONZURUKOTÓ( ETIQUETA )
A prática de uma arte-marcial destituída de regras de etiqueta tornar-se numa prática rudimentar sem qualquer sentido formativo.
5. KEKKI NO YUÓ IMASHIMURUKOTÓ( AUTO-CONTROLO )
No treino ou em situação real os objectivos são mais facilmente alcançáveis quando se consegue controlar as emoções e o stress. A perda desse controlo inibe o raciocínio claro, as capacidades físico-coordenativas e técnicas. "