Entrevista com Robson maciel, exclusiva para o pessoal do karateca.net.
Olá Robson,
Eu gostaria de fazer uma entrevista e postar no fórum karateca.net. Muitos professores novos já escutaram falar mas não tem a mínima ideia o que era treinar karate naquela época, por isso gostaria de fazer algumas perguntas para conhecimento do pessoal do fórum.
Robson – Será um prazer e obrigado pela oportunidade e desde de já coloco-me a disposição, através do meu Blog para contato.
Ok. Vamos às perguntas.
1)Como foi seu inicio no karate ? (o que levou a treinar – escolha de um estilo no caso o shotokan – vc sabia diferenciar um estilo do outro ou poderia ter sido qualquer outra linha de karate) - o que o levou a treinar com Sasaki )
Robson – Comecei a treinar aos 11 anos de idade, pois brigava muito na escola. Descobri o Shotokan por acaso, assim como o Sensei Sasaki.
2)Como era treinar naquela época, os treinos eram realmente duros e fortes ?
Robson - Foi muito duro, porque não havia categoria de peso e eu só tinha 55 kg. Naquela época a faixa maior era a roxa e nos campeonatos quando seu oponente caia no chão valia chutar a cara. Depois foi mudando tudo isso com a massificação do karate.
3) O que era exigido de vcs como alunos ?
Robson – Era sempre cobrada a sua presença nos treinos, paciência, dignidade para com seus adversários e muito respeito para com seu mestre.
4) Como aconteceu sua entrada em competições ? (em que ano)
Robson – Minha primeira competição foi aos 16 anos em campeonato paulista na época do pugilismo, onde era a Federação de karate fui vice-campeão e não havia categoria por peso e logo após fui 3º ( terceiro colocado) no campeonato Brasileiro no Rio de Janeiro. As datas 1972 (Paulista) e 1973 (Brasileiro).
5) Os campeonatos que vc participou não tinha divisão por peso. Como fazia para superar os adversários maiores ?
Robson – Por não ter divisão por peso tive que compensar de outra forma, no caso tinha que ser mais rápido que meus adversários e desenvolvi minha própria estratégia.
6) O que acha da divisão por peso ? Ficou mais justo a competição ou muda o conceito que o menor pode ganhar de um adversário maior ?
Robson – Nós temos que acompanhar os tempos e a divisão de peso e mais justa. O menor poderá sempre ganhar do grande, mas no conceito de luta real. Já nas competições trocar golpes com o mais forte não é uma boa estratégia. Lutar com o maior no shobu-ipon tendo habilidade às vezes você poderá ganhar.
7) Karate é Budo ou esporte ou pode ser um misto dos dois. Qual a sua opinião ?
Robson – Pode ser os dois, só que o karate Budo vem em primeiro lugar, para você aprender a amar o karate e a competição para avaliar seus conhecimentos técnicos. O Budo e para você aperfeiçoar sua vida.
Quais foram seus maiores adversários no tatame ? Poderia falar sobre eles ?
Robson – Nunca pensei nisso. Eu era apenas um garoto e eles mais maduros, as vezes mais fortes, mais experientes. E fato eu realmente me destaquei numa época de grandes nomes do karate como: Ricardo D´elia, Enio Vezzuli, Ugo Arrigone, Ronaldo Carlos, Djalma Caribe entre outros. A luta mais difícil foi contra o campeoníssimo Djalma Caribe no torneio dos grandes karatecas do Brasil em Petrópolis (RJ);
Ari – Karateca.net – Você pode comentar a respeito dessa luta ?
Robson – Posso. Num determinado momento eu acertei um golpe no Djalma e foi parada a minha luta e seu irmão Denilson Caribe perguntou ao Djalma se o golpe tinha entrando e o Djalma com sua lealdade a esse esporte respondeu afirmativamente e assim consegui ganhar a luta como também fui para seleção brasileira pois o Djalma era o atual vice-campeão panamericano.
9) Nos anos 70 tivemos a equipe da Butotukai (Okuda) com o Enio, D´elia, Gomes, Carlão e depois com a separação dessa equipe tivemos como sucessora a equipe da Lembukan encabeçada por vc, Johanes e o Rui. Poderia comentar sobre essas duas equipes ?
Robson – Foram épocas diferentes, mas posso afirmar que tanto a Butokukai como a Lembukan que os seus integrantes fizeram o começo da história do karate no Brasil.
10) Já que falamos do Sensei Okuda, podemos afirmar que com a chegada dele ao Brasil o nosso karate ficou mais forte. Ele era realmente o mais forte dos professores ? O que o diferenciava dos outros mestres ?
Robson – Sensei Okuda foi o responsável pela formação dos professores da NKK no Brasil e treinávamos de manhã um treino duro, árduo e violento. Imagina, o Djalma veio da Bahia para morar na academia só para fazer esse curso (referindo-se ao treino da NKK que o Sensei Okuda trouxe para o Brasil).
11) O Sasaki treinou com ele também sua linha de trabalho era igual a do Sensei Okuda ?
Robson – O Sensei Sasaki treinou, aliás nos treinamos juntos. Para você ter uma ideia em Minas Gerais no campeonato brasileiro a equipe era: Ricardo, Sasaki, Enio, Gomes, Robson e o Okuyama.
12) Como vê o treinamento naquela época e hoje ? O aluno mudou ou foram os professores ?
Robson – São épocas diferentes, objetivos diferentes. Só acho que o Budo foi esquecido, por causa das competições. Nos treinávamos para sermos campeão da vida e como consequência éramos campeão de karate.
13) Fale um pouco da sua experiência Internacional ?
Robson – Lutei em dois mundiais, Sulamericanos, Copas Mundiais e Panamericanos, amistosos Brasil x Alemanha, Brasil x Chile, e os torneios dos campeões nível nacional e internacional.
14) Quando ganhou o Pan-americano vc foi para Kokushinkan-JP treinar. Poderia falar da sua estadia lá e como foi seu treinamento, já que na volta literalmente falando atropelou todo mundo na sua frente ?
Robson – A kokushinkan era realmente fabulosa nos treinos na disciplina e na filosofia do karate. Eu treinava 7 horas por dia, naquela época os japoneses já faziam musculação e o treino era dividido; na parte da manhã corrida e musculação, eu tinha uma obrigação antes do último treino tinha que praticar o salto do kata unsu durante uma hora e depois mais 3 horas de karate. Por isso me dei bem no Panamericano.
15) Falam que os estrangeiros não são bem recebidos no Japão. E com vc, teve que sair na mão para provar que realmente tinha condições de estar lá e acompanhar o treinamento ?
Robson – Não é bem assim. Como aluno tinha que mostrar meu karate e honrar meu professor e como em qualquer outra profissão se você está na elite da elite tem que ser testado e provar que merece estar ali entre os melhores. Eu fui testado de todas as maneiras, mas acho que passei, porque quando do meu regresso para o Brasil ganhei a bandeira da Universidade Kokushinkan
16) O comentário que corre e que quando o Yamamoto (Campeão mundial) esteve no Brasil vcs saíram na mão e o Sasaki teve que separar. O que de fato aconteceu ?
Robson - Foi no treino da manhã, nos fizemos um kumite normal, e o normal naquela época era sair na mão e num determinado momento eu cai por baixo e o Yamamoto também tinha conhecimento de chão e quando viu que em pé tava ruim me finalizou no chão. Tudo foi elas por elas e foi pena eu não ter o conhecimento do jj que eu tenho hoje naquela época, as coisas teriam sido diferentes
17) Falando da sua formação, vc é formado em Educação Física pela OSEC (Santamarense). Vc acha importante um professor investir na sua formação ou em se tratando de karate basta apenas treinar ?
Robson – E importante estudar para conhecer melhor a anatomia do corpo e dentro da Educação Física existe muitos tipos de preparação física que ajuda o lutador em sua modalidade. Mas, e necessário ter uma boa formação também no karate porque são coisas diferentes e, em alguns anos você pode ser formar em Ed. Física, mais para ser um Sensei de karate precisa treinar muitos anos além de entender e conhecer sua filosofia.
18) Como equilibrar a formação e o crescimento interior do praticante como ser humano com seu desempenho como atleta ?
Robson – Uma questão de ensinamento do seu Mestre e também uma boa formação familiar, porque a educação começa em casa e a espiritual e aperfeiçoada nos treinos de karate (Budo).
19) Vc comentou que hoje está mais experiente e isso se deve ao treinamento da greco romana e jj . Fale a respeito ?
Robson – Como explico em meu Blooger, quis me aperfeiçoar em outras lutas, e lutar em outros campeonatos para testar meu equilíbrio emocional e realmente sentir a diferença das modalidades. No começo foi muito difícil, mas depois você vai aprendendo as manhas de cada luta. Lembrem-se sempre a distância de pé até chão e mais longa do que se imagina. Você sabe socar e chutar; arremessar e não ser arremessado; você sabe cair quando arremessado; sabe se defender no chão e não ser finalizado e por fim sabe finalizar. Tudo isso e aprendizado e precisa ter paciência e coragem e humildade para colocar uma faixa branca e começar de novo como eu fiz. Eu fiz tudo isso e por isso conquistei respeito em outras artes marciais também.
20) Como vê a participação dos irmãos Machida no Vale tudo ?
Robson – Para se ter uma ideia, antes dos irmãos Machida entrarem para o Vale Tudo o Robson Maciel, Otavio Almeida, Roberto Lage, Eder Jofre e Mauzzeler Paulinet já organizávamos esses eventos além de treinar. Nos lançamos o VT no Brasil. Por isso digo que poucos sabem como e difícil aprender três ou quatro modalidades de lutas na sua exência.
21) Como vê o quadro atual do karate com esse monte de organizações ? E seus dirigentes ?
Robson - Como eu disse hoje são outros tempos, e uma questão onde você se encaixa melhor eu quis além de treinar o karate somar o jj e a greca romana e abri meus horizontes além de forma uma equipe de MMA e tenho o prazer de trabalhar de personal dessas lutas.
22)Valeu a pena o sacrifício e o esforço por todo o suor derramado em prol do karate ? Se sentiu traído pelos que dirigem o karate ?
Robson – Valeu a pena e não foi nenhum sacrifício, pelo contrário foi até prazeroso, porque eu amo o karate e amo lutar e ensinar aqueles que querem trilhar nosso caminho. Nunca me senti traído, pelo contrário sempre tive amigos só que seguimos caminhos diferentes.
23) Poderia mandar uma mensagem pro pessoal do fórum karateca.net. (Também participam o Roberto Santana, o Pedro Campana o Carlão sempre entra mais não posta nada e também o Márcio que já treinou com vc).
Ari – Karateca.net – Referindo-se aos professores citados acima e ao Márcio.
Robson – Só posso dar os parabéns para esses professores que muito tem feito pelo karate no Brasil e poucos sabem disso. Tenho uma grande admiração por eles carregarem a bandeira do karate não importa as dificuldades. Quanto ao Márcio é um grande amigo e será sempre meu aluno. E espero pode mostrar meu trabalho das lutas ligado ao karate.
Ari – karateca.net : É para o pessoal do fórum tem alguma mensagem ?
Robson - O futuro do karate vai depender de cada professor, da formação de bons faixas pretas, e não de comerciantes do karate. Uma coisa está ligada na outra, karate competição estimula o aluno a prosseguir assim como a graduação de faixa.
Mas não podemos esquecer( BUSHIDO) o caminho do guerreiro e dentro desse caminho educar nossos alunos e evoluir com eles o máximo como ser humano.
Também aliar esses conhecimentos a eficiência, porque o karate está ai até hoje não só por causa da filosofia mas também pele sua eficiência e a facilidade de adptar o ser humano a qualquer situação. Quando digo situação eu falo da luta da vida que é trabalhar, estudar, conviver bem com sua família, e viver na sociedade sem prejudicar outros.
Tenho certeza que o futuro é promissor, nem todos querem competir, nem todos querem lutar ao ponto de se machucar. Karate esta acima de tudo isso.
Mas uma coisa e certa todos nos procuramos um caminho em nossa vidas e com a educação correta do karate e possível somar a família e contribuir para sociedade.
Agradeço ao Robson pelo bate bapo que tivemos e que resultou nessa exclusiva para o karateca.net, um forte braço e que continue sempre nesse “Do” como um verdadeiro Samurai.
Bom pessoal e isso ai. Espero que tenham gostado. O Robson me autorizou a puxar algumas fotos do seu Blog para colocar aqui no fóum, mas não consegui. Fica então o convite para quem quiser olhar as fotos, pode visitar o Blog (robsonmaciel.blogspot.com).
Aguardem novas entrevistas............
Oss,
Ari - Santos/SP