Caro sensei Leson,
Entendo o seu ponto de vista, mas discordo da sua tese de que são os valores do mundo moderno que vem trazendo poucos alunos para os dojos. Eles podem até contribuir para isso mas não são a razão principal. No fundo é uma análise muito simplista.
Há uma série de fatores que contribuem para esse problema, um deles é a própria proliferação de academias picaretas de tudo o que se pode imaginar (kung fu olho da cobra, macaco embriagado, etc.) cobrando R$ 20 por mês (6 "aulas" por semana) e prometendo mundos e fundos. E o coitado do aluno não sabe como distinguir o joio do trigo. Há trinta anos não existia isso. Há muitas academias falindo mas há também academias que cobram mensalidades acima de R$ 200 por mes que estão repletas de alunos.
E é uma falácia achar que todos por ai só querem moleza e treinos de karate "light". Certamente muitos querem. Mas muitos também querem autenticidade, respeito, limpesa, organização, treinos sérios, dojo apropriado para a prática do karate, algo que poucas academias, até mesmo de mestres individualmente competentes, não conseguem oferecer.
Se as pessoas querem moleza, o que explica o fortissimo crescimento no mundo do interesse pelas provas de longa distância tipo maratona, meia-maratona, triathlon, etc. Veja no Brasil o que essas provas atraem de pessoas de todas as idades. E olha que a preparação para provas desse tipo está longe de ser moleza.
Minha filha faz ballet numa academia que segue rigidamente o método da Academia Russa de Ballet Vaganova (ligada ao Kirov), mais ou menos equivalente a JKA antiga em termos de karate. A sra. Vaganova, já falecida, fez com o ensino de ballet o que o sensei Nakayama fez com o Karate. A disciplina é militar, as práticas são desgastantes, o respeito pelas professoras é total, mas os resultados são extraordinários e as alunas adoram, pois veem o resultado do esforço na qualidade da apresentação das alunas mais velhas.
Então eles devem estar com poucos alunos, dado o tradicionalismo do ensino? Muito pelo contrário... faltam vagas para novas alunas e há fila de espera (e a mensalidade está longe de ser barata, uns 50% acima da melhor academia de karate local).
No fundo a questão da falta de alunos nos dojos é complexa, dependendo de muitos fatores.
Quanto à questão da limpeza do chão pelos alunos...
... o caso das crianças que ainda limpam o chão…pois é, repare que tais crianças não estão na cidade e são de uma zona cujo desenvolvimento não é compatÃvel com o vivido nas cidades. Zonas rurais mais pobres e com o nÃvel cultural inferior, ainda se verifica isso mas está completamente em fase de extinção...
Em sua afirmação original indicava que isso já não existia no Japão. E agora diz que isso só existe em regiões pobres com nÃvel cultural inferior... ao contrário, o exemplo mencionado não está numa pobre zona rural mas numa rica região turistica de esportes de montanha e inverno, com alta atividade cultural (há 2 museus famosos ao lado da academia) e diversos resorts tipo hotel 5 estrelas. Conheço o local e está longe de ser uma região rural atrasada (como há muitas no Japão).
Na grande maioria dos clube de karate universitário (e de outras artes marciais) no Japão essa prática é corrente.
Diria com segurança que colocaria meus dois filhos pequenos nessa academia do vÃdeo, inclusive achando muito bom que eles limpassem a academia, demonstrando o seu respeito pela limpesa do local onde treinam, que por sinal é muito atrativo. Não vejo nenhum problema com isso, dentro do contexto da prática tradicional do karate.
Gakusei