Tópico: Master Kenji Yano 8th Dan JKA

[Bodhi]

Oss Sensei Roberto,

Muito esclarecedora sua resposta. Fiquei com algumas conclusões, mas  a principal é a percepção de que o Karate-Do é realmente algo muito exclusivo não só no espaço, mas também no tempo...

Esse seria o Karate-Do de Funakoshi ? Não tenho toda obra dele e acharia muito construtivo se eu pudesse encontrar referências dessa forma de prática, se houver . Pois pode ser que seja algo tão implícito naquela época que ele nem precisasse escrever.

Fico pensando também se essa forma de prática, extremamente marcial, não levaria a abusos, como os que são comum nas escolas militares, e se isso não teria sido provocado pelo contexto histórico cultural do pós guerra.

Força física e resistência psiquica e emocional é o básico de qualquer praticante de ponta que envolve uma atividade que exijam essas características. Agir sobre pressão de morrer é muito mais bem treinado, ao surfar ondas gigantes, ou mergulhar com tubarões, ou trabalhando no BOPE, por exemplo.

Sempre compreendi a obra de Funakoshi como sendo algo único pela associação que ele fez a partir do trabalho com Jigoro Kano dos valores e da harmonia que o Karate-Do podem trazer ao indivíduo e ao seu entorno, a partir de uma pratica marcial. Essa compreensão esta equivocada ?

Acredito que o individuo dê uma verdadeira razão à prática do Karate-Do (digo dê ao Karate-Do razões únicas para existir) quando ele nas maiores dificuldades da vida se mantém sóbrio, sem se entregar.

Pelas minhas observações pessoais, práticas envolvendo marcialiadade em níveis extremos não fazem o ser humano crescer além de um certo ponto, tanto que muitos que fizeram parte de grupo seletos/forças especiais se entregaram a vícios em idades não tão avançadas (quando começaram a perder de fato a força, quarenta, cinquenta...teria sido o orgulho a maior "virtude" conquistada?), quando eu esperaria o contrário. Eu até compreendo a razão de massacrar  uma pessoa para ela servir a pátria, mas qual então é a finalidade desse Karate-Do ? E porque ele seria o "Verdadeiro".

Como atleta que fui, entendo bem as razões dos 10.000 guiaku zuki,e acho bastante justificado. Mas níveis despropositais de violência talvez tenham seu lugar exclusivo no tempo e no espaço justamente porque eles não tenham justificativa.

Obrigado pela oportunidade de aprendermos e manifestarmos nossa opinião.

Osu!

[katsumoto]

Bodhi,

Funakoshi Sensei tinha uma visão bem parecida a Kano SEnsei. Atitude e respeito em primeiro lugar.NO entanto, lembre-se de que quando nakayama o encontrou na Universidade de Takushoku, ele estava treinando com o Makiwara. Acabara de socar o aparelho com o cotovelo por volta de 1000 vezes, de acordo com o que Nakayama relata em sua entrevista a Hassel SEnsei.
Acredito que, como Nakayama veio de uma familia de Instrutores de Kendo, ele trouxa uma bagagem da epoca dos Samurais, no que diz respeito a hierarquia e rsepito a seus superiores.
A defesa do nome de uma Universidade no Japão é coisa muito séria até hoje. Como a Takushoku é uma Universidade para BURROS literalmentre, ja que quem entra la nao quer saber nada de Estudos, os alunos se dedicavam as Artes marciais o dia todo e acabram sendo conhecidos como os homens mais fortes do japão. Kimura do Judo saiu de la, e muitos dos grandes nomes da JKA.
O Curso Kenshusei era a ELITE da Elite e eram assim treinados para suportar as dificuldades que porventura teriam que enfrentar na divulgação do Karate do no além mar.
Nakayama Sensei havia ja enfrentado isso quando esteve na Tailandia com Okazaki SEnsei, durante uma demonstração. Fora desafiado por Mestres de Muai Thai.
Quando digo VERDADEIRO Karate, quero dizer do karate japones implantado por Funakoshi SEnsei.Pra mim, só existe esse Karate. Os outros vieram depois. Okinawa-Te, To-de etc..nao são Karate do.
Como o nome foi batizado por ele,entao ele foi o inventor do karate do.

[Bodhi]

Entendi. Obrigado Sensei!

Osu!

[BigBoy]

katsumoto,

   Eu li de um "senhor" um texto que ele deixou que uma das frases é "... cada árvore é reconhecida pelo seu fruto..."

   Eu já escrevi isso aqui uma vez quando você ficou com raiva pelo Shodo ter exposto um kata mal feito em um exame pra preta por uma moça lá no Okuda (Okuda é o sensei da Butoku-kan que ele mencionou ... para os colegas que não conhecem). Ele, Okuda, pode ter sido muito $%&! naquela época, mas o que deve ter ocorrido pra tal kata ser sido realizado agora no século XXI de tal forma?

   Se Okuda não conseguiu gerar frutos (ou se tais frutos se resumiram a meia dúzia de faixa pretas de valor ao longo destes 40 anos) que possibilitaram a multiplicação do karate ali praticado, é sinal de que algo há de errado.

   Você já é um sensei 6o dan. Mas ao mesmo tempo suas articulações, respostas aos estímulos e vigor acompanham o que hoje um quarentão com saúde pode proporcionar. O coração manda lutar, fazer o movimento de um jeito e o corpo manda fazer de outro.

   Logo, pense no seguinte: lembre-se que você tem a experiência do que possa ter dado errado lá no Okuda, combinada com sua formação em Educação Física e ainda seus conhecimentos atualizados com sensei Stan, sejam uma combinação que não imagine que os apreciadores de karatê parem tudo o que estão fazendo, comprem suas passagens e todos parem lá em Ribeirão Preto.

   Logo, sensei, gere "frutos". Um pra região Sul, outro pro Centro-Oeste outro pro Nordeste outro pra região Norte, todos esclarecidos, formados também em EdFís, filiados à JKA e que possam transmitir este karatê de valor que você sabe transmitir. Se preciso for, vá às universidades, peça 15 minutos para dar uma palestra em uma aula, recrute interessados, gente com valores morais. Prepare-se pros bundões, que vão desistir no meio do caminho, mas que se você formar cinco dali, já terá multiplicado. Uma coisa como recrutar uns 20 e saber que dali sairão 5. Conseguir uma bolsa do governo, financiamento para os estudantes, etc.

   Por mim, se você nunca mais falasse da Butoku-kan, só para lembrar-se que muito ajudou-lhe na formação, seria muito melhor. Você é o responsável hoje em dia pra divulgar este karate do e para isso não precisa criar associação, federação, etc, nada. Continue na própria JKA. Tens um contato tão fácil com o Shidoin Vezulli que, aposto que ele se amarraria num projeto desse.

   Com um time desses, voltaria a ser possível um evento de jyu kumite. Se lembra? Aqueles 10 kumites que você estava tentando promover com o sensei Paulo Afonso?

   E pra finalizar: essas coisas que você escreve aqui sensibilizam a gente. Eu o Bodhi que estamos lendo, mais alguns que só estão acompanhando. Mas já pensou em fazer um livro? Nem que fosse gratuito para que fosse possível o emprego de um linguajar mais livre de número de páginas, etc. Já imaginou a multiplicação de conhecimento.

   Frutos, sensei katsumoto. FRUTOS!

   Daí, entender o makiwara, será um passo simples....

[]´s
BigBoy

[katsumoto]

Caro Big Boy....

Uma perola que talvez mostre o que eu quiz dizer sobre fortalecer por dentro e makiwara.
O entrevistador é ninguem menos que o Clive.W. Nicol, aquele mesmo que escreveu MOVING ZEN.
O problema é encarar os GENIOS do Kararte do Brasil que irão meter o pau....Eles prefererm acreditar que Arte marcial e MMA são SINONIMOS.

[Bodhi]

Já li a entrevista http://www.theshotokanway.com/aninterviewwithcwnicolp1.html algumas vezes. Nunca me canso de ler o trecho abaixo !


(SB)     Your other Sempai – Sensei’s Seto and Okuda, can you please tell us about them also, the time you shared with them, and the things they taught you?
 
(CWN)     Okuda Sensei was also a yudansha in Judo.  He was strict as a sempai, but extremely kind, thoughtful and courteous as a friend.  He went to teach in Brazil and I haven't seen him since.  Seto sempai is still a lifelong friend.  We have been into the mountains to hunt wild boar together, done lots of things together.  Seto sempai did not become a full-time instructor, but he was certainly good enough to be one. Small, but very, very fast.  Fighting with him was like trying to get the best of a cross between a hornet and an eel, with a kick like a mule. Once I lost my cool and grabbed him in a wrestling hold.

http://www.theshotokanway.com/aninterviewwithcwnicolp1.html

OSSU!

[Bodhi]

Muito bom o vídeo. Obrigado Sensei Roberto por compartilhar.

[Pedro]

Olá!
Caro Roberto, vai ser dificil o entendimento desse video.
Falar de Makiwara, é falar de um "profundo"estudo de ataques e defesas,
de tempo, distância e foco; estudo esse que não é posivel em teclados, conversa em botecos
ou mesmo somente  em livros, e  sim em estudo durante o treinamento com centena de repetições, muita dedicação superando o cansaço e a dor.
O Karate somente é entendido e sentido na sua essência por muito poucos, somente para uns poucos que o respeitam e sentem essa Arte forjada e imposta no seu instinto.
Oss
Pedro

[Marquinhos]

Sensei,

me permita discordar de você num único ponto: não acho que a Butoku-kan tenha sido o único lugar em cujo ambiente reinasse essa tensão e essa mentalidade. Infelizmente não conheci, mas o sensei Flavio Costa falou muito bem de ter treinado com Okuda sensei.

Iniciei em tal ambiente, como já relatei aqui, inclusive sob os protestos veementes de muitos que consideraram a "pedagogia" do Takeuchi sensei e seus discípulos menos do que apropriada.

Participei de treinos assim a vida toda com pessoas como Fernando Atahyde, Ugo Arrigoni, Vitinho, Paulão (ah! os treinos com o sensei Paulão!...), Ronaldo, Tanaka e, claro, com meu próprio Professor, o já citado Flavio Costa sensei.

Essa tensão era presente também nos treinos com Marco Ruas.

Não pense, ao ler isso, que eu ache que possa me comparar (mesmo nos meu áureos tempos) com qualquer um dos nomes que citou (nem os que eu citei), mas a mentalidade é a mesma e é ela que importa.

Quando ensinava profissionalmente, replicava esse espírito e mentalidade, pois acho que, sem eles, não há Karate ou qualquer arte marcial.

Não há descanso, não tem essa de beber água e nem ventiladores pra refrescar... nunca teve, e eu nunca permiti isso em minhas aulas.

Nossa mente se cansa antes do nosso corpo e nos engana pedindo que desistamos. Não se pode acreditar numa mente preguiçosa! O terceiro ítem do dojo kun: "Incutir o intuito do esforço" parece que foi esquecido ou ignorado...

Certa vez (isso virou anedota lá do dojo Flavio Costa) um dos alunos pediu pra que ligasse o ventilador num dia particularmente abafado de verão, pois queria "sentir um ventinho no rosto". Perguntei se alguém mais queria sentir uma brisa no rosto e muitos se manifestaram.

Disse a eles que na minha aula, para ter brisa no rosto, só avançando em oi-zuki bem rápido. Passaram uma hora socando em oi-zuki sem parar e sem que pudessem diminuir o ritmo. Ninguém morreu...

Muitos alunos não queriam mais treinar comigo. Tudo bem, quantidade não é qualidade!

Infelizmente, os que precisam do dinheiro das mensalidades para viver, têm que manter o máximo de alunos que puderem.

Por isso que não ensino mais... porque, justamente, as pessoas não querem mais sentir essas coisas que descreveu. Muito menos irão concordar com elas sem as terem experimentado.

Me chamavam de maluco, obsessivo compulsivo (eu sou, admito), mas é só assim que eu sei fazer as coisas. Não acho que Karate seja para todos mas, infelizmente, parece que como as coisas estão "evoluindo", em breve, não será para quase ninguém.

Antes sós do que mal acompanhados, já dizia minha falecida avó...

Quem quiser que trilhe um outro caminho. Me manterei nesse enquanto me permitirem minhas habilidades, minha idade e a saúde.

OSS!

A minha opinião é que para se treinar Karate do de VERDADE, tem que haver um certo ambiente tenso, apesar do respeito absoluto. Tem que haver aquele sentido de que se fizermos algo errado, tomaremos uma porrada na fuça daquelas de que nos lembraremos por muito tempo. porque para se respeitar o sentido de matar ciom um golpe só, tem-se que treinar desta forma.

O unico lugar que ja um Karate assim no Brasil era a antiga Academia Butoku-kan da Rua vergueiro. Nao que nao existam Dojos bons por ai. Longe disso. Mas lai, pergunte a qualquer um que conheceu o lugar, era algo diferente.

A atitude dos praticantes ali era completamente diferetnte do que se ve por ai tambem. SE vc nao estivesse a fim de dar tudo de si, era convidado a desaparecer dali. Tempo para descansinho basico NUNCA EXISTIU.

Quando digo ser dificil as pessoas entenderem isso, é porque eolas terão que sentir isso.

[katsumoto]

A parte da brisa no rosto foi demais..kasquei o bico de tanto rir.
Vc ta certo Marquinho. Hoje em dia a coisa anda bem diferente.