OSS!
Caros Budokas, Karatecas e Pesquisadores das Artes Marciais, tomo a liberdade de vos deixar aqui expresso um pouco da história do nascimento do Karate em Portugal.
Espero que vos interesse e que contribua para a continuação da vossa pesquisa individual, dando assim mais riqueza histórica ao tema por mim proposto.
O Karate Em Portugal
Fundado em Portugal pelo Dr. Luiz Franco Pires Martins, o Karate começou a praticar-se em Portugal há 40 anos, na tradicionalista Academia de Budo, organismo fundamental da prática de artes marciais no país, e que visa conservar o espírito do Budo, em todas as suas manifestações.
A Direcção da Academia de Budo, alguns anos mais tarde, estabelece contactos internacionais, com o Mestre Tetsuji Murakami, para vir dirigir um estágio e, a partir daí, o Mestre jamais deixou de dar assistência contínua ao estilo que iniciou no país, o Shotokai-Egami.
Com efeito, os estilos Shotokai e Shotokan, embora do mesmo tronco, têm concepções técnicas e mentais completamente opostas. O estilo Shotokai tem mesmo no Japão reputação e características de uma prática fechada, hermética, e directamente visando a parte mental e a procura interior. Esse tipo de Karate vinha pois ao encontro do espírito já existente na Academia do Budo e no seu Director Dr. Luiz Franco Pires Martins, e no Presidente Correia Pereira, grande estudioso e erudito das armas do Bushido. A extrema fidelidade do Mestre Murakami, 5º Dan (máximo do Shotokai), aos princípios de Egami e Funakoshi no ensino, levam-no a não ceder um milímetro de concessões no espírito e no desejo e impaciência do praticante ocidental. Nós mesmos que participámos em estágios do Mestre só passados anos vislumbrámos a sua extraordinária mensagem: «A doçura triunfa da dureza, a fraqueza triunfa da força». - «Na sua nascença as plantas e as árvores são flexíveis, mortas são rígidas e duras. Rigidez e dureza são companheiras da morte. Souplesse e fluidez são as companheiras da vida».
Assim se explica o trabalho do mestre preconizado em completa descontracção, a procura da harmonia com o adversário, e ao mesmo tempo o sentido mental da antecipação que não cessa jamais de desenvolver-se no homem, e a espontaneidade!
Assim, voltando às origens e história do Karate em Portugal, estabelece-se um confronto com o Shotokai e Shotokan. Um grupo «dissidente» da Academia de Budo, funda o C.P.K. na Parede, e começa a trabalhar o Shotokan versão J.K.A..
Mercê de uma organização e direcção cuidadosamente planificada à qual, temos de reconhecer, não falta um certo tipo de sobriedade de apreciar, e uma fidelidade absoluta à directriz da J.K.A. tem obtido uma expansão natural, em princípio independente no Centro Português de Karate (Parede), dirigido por José Manuel Custódio, e o sul-africano Ronald Clark, secundados por Cunha e Afonso Lopes Vieira, jovens praticantes da Academia de Budo a quem o instrutor Myazaki, atribuiu, num estágio a graduação de 1ºs Dans.
Esse foi o primeiro estágio da J.K.A. em Portugal. Essas graduações desencadearam o movimento do Centro Juvenil de Karate, integrado em organização de Estado. Nesse período, os jovens instrutores da J.K.A. em Portugal recebem o Mestre Otsuka da Wado-Ryu, organizam demonstrações e filiam-se definitivamente nos seus organismos internacionais. A natural propensão da J.K.A. para a competição e a curiosidade de conhecer o Karate internacional leva o grupo a participar nos Europeus Wado-Ryu em Londres, e mais tarde nos Mundiais em Paris, onde a equipa nos Mundiais em Paris, onde a equipa Portuguesa conseguiu se não algumas vitórias, pelo menos a certeza de que o nível da organização e da evolução técnica em Portugal era equiparado até ao do Japão!
Ao mesmo tempo uma vaga de mestres-instrutores do estilo aparece em Portugal. Depois de Myazaki, vêm convidados pelo grupo: Catow, Enoeda, Igaona, e, já recentemente, o extraordinário Kanazawa, que executou demonstrações e dirigiu um estágio para o grupo da Shotokan J.K.A. em Portugal.
O grupo estava pois definitivamente lançado em Portugal. Com a vinda de Kanazawa, e o seu reconhecimento de todas as graduações e dos novos discípulos dos três instrutores fundamentais do Centro Português de Karate, Custódio, Cunha e Afonso, o Shotokan cumpria a missão para que está feito, popularizar o Karate desportivo e dar possibilidades aos jovens de praticarem um Karate que é força, endurance, e velocidade em contracção, sem preocupações rituais filosóficas ou éticas.
A fase primária do Karate em Portugal estava pois ultrapassada, detendo porém o Shotokai de Tetsuji Murakami - Academia de Budo um número impressionante de filiados, não correndo pois o risco de ser submergido pelo Shotokan. Também nesse grupo em cintos negros destacavam-se indivíduos que assimilaram intensamente o espírito do Mestre; assim José Gueifão, Rebola, Francisco Gouveia, Cacho, Raul Cerveira, continuando a obra do Mestre e participando em estágios em Paris tornam-se o símbolo da técnica e espírito do Shotokai em Portugal, conservando junto a si centenas de praticantes do estilo em seus «Dojos».
Sem querermos passar por desmistificadores, podemos afirmar que nunca se realizaram campeonatos de Karate em Portugal, em parte porque até agora não existia Federação que era na altura representada pela Comissão Directiva das Artes Marciais - Departamento de Defesa, e tinha a finalidade de controlar a prática das mesmas artes, segundo decreto de Março de 1972.
Individualmente, no Porto, o jovem Mário Águas, discípulo de Mestre Tran Hué, que por sua vez, segundo cremos está ligado a Yoshinao Nambu com o Sankukai-Keiseiryu, continua a trabalhar esse estilo, com profundidade e êxito, secundado por seu pai, com a escola Soshikai, o «Dojo» mais antigo do norte do país. Verificámos assim que a tendência feudalista do Karate também tem feito a sua segregação no país, separando os praticantes nos dois estilos Shotokai e Shotokan.
Este fenómeno de individualidade é típico das Artes Marciais, e confunde bastante o iniciado. Com efeito como se pode compreender que as mesmas bases técnicas tenham tantas diferenças de interpretação? Aí podemos talvez dar uma explicação, é que o Karate é um fenómeno de procura intensa da realidade! O indivíduo que se integra nessa procura não se detém perante nada para encontrar o que ele considera a verdade! Vai, se necessário até ao fim do mundo, buscando mestres que saciem essa sede de tocar as profundidades do ser.
Se esses mestres são os mais válidos ou se o estilo é melhor ou pior pouco importa, pois muitas vezes ou aliás quase sempre a verdade está na nossa própria casa. Todo esse imenso movimento de participação é subjectivo e nada atinge. Prestígio, títulos, taças, em Karate, são no fundo ilusões do humano, que não visam directamente a tal realidade e que passam, transitoriamente pelas fases glandulares da juventude. O que na verdade fica de tudo isso é a densidade e espontaneidade da «via», de que só mais tarde nos apercebemos quanta beleza e delicia tem!
Nota: Desejo que continuem a dar continuidade a este tema e que de alguma forma possa vir a enriquecer a vossa Cultura Marcial.
Um Abraço
SHOGUN
OSS!