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PAGUE-SE O EXAME E RECEBA-SE O DIPLOMA!
DIPLOMAS VERSUS REALIDADE
Não são apenas os que são experientes e sábios que têm mestres, os tolos também têm os seus.
Uma Associação legalmente constituída tem a faculdade de poder emitir diplomas e conferir graduações aos seus associados daí o cada "Mestre" (ou mais humildemente Instrutor-Chefe) ser o patrão da sua própria "Universidade".
E dos muitos que vão "beber" a essa "Universidade", uns ficam de tal maneira etilizados que o melhor remédio que encontram para a ressaca é não saírem da bebedeira; outros, ao constatarem o modo como essas bebidas estão inquinadas e que afinal o "Mestre" não passa de uma "Rainha de baile" resolvem bater com a porta...
O valor desses "Mestres" é confirmado não pelo número de cintos negros que forma (ou disforma) mas sim pelo número daqueles que com ele permanecem desde o início e que consigo continuam.
E aqui se levanta mais uma questão: quando se rompe o Giri, quando há uma cisão, de quem é a responsabilidade? De quem detém o poder ou o dissidente?
O aluno é diplomado de Kyu em Kyu, de Dan em Dan, e mais tarde torna-se o próprio "Mestre". Mas isto aconteceu simultaneamente com mais 7, 8 ou 9 colegas seus. E o ciclo irá repetir-se eternamente... (já imaginámos que se cada 11 jogadores de uma equipa de futebol todos abraçassem a carreira de treinador no fim da sua vida de atletas, teríamos mais treinadores que jogadores?) até que daqui a uns anos, quando desaparecem os barões que polulam no nosso País, esses 7, 8 ou 9 "Mestres" andarão às cabeçadas para saberem afinal qual é o digno sucessor modelo mais uma vez reprodutivo daquilo que se passa no Japão.
Em Roma, os gladiadores dividiam-se em duas espécies: os vitoriosos e os mortos.
Os vitoriosos eram-no apenas até ao combate seguinte, onde tudo se iria jogar de novo. Os derrotados, não tinham sido mortos pelos seus colegas, eles também escravos, mas sim pelos senhores, ávidos de espectáculo, que se sentavam nas bancadas a aplaudir, saboreando em delírio o sangue derramado.
Mas o último gladiador, o vencedor de todos os combates, sabia que se não se pudesse sentar na bancada dos senhores, não teria ganho mais do que a incerteza de novos combates.
Haverá então, para que esses "Mestres" se sentem na bancada dos senhores, o recorrer ao currículo, aos estágios, aos títulos, aos diplomas...
Muitos desses "Mestres" chorariam amargamente o seu infortúnio, se lhes destruíssem os diplomas e os respectivos registos (se é que existem). Se nenhum panfleto comprovativo das suas qualificações pudessem exibir, talvez emoldurado numa parede do Dojo, perante os seus aduladores, os seus súbditos, seria um autêntico desastre.
Contudo, outros haveria a quem isso pouco incomodaria: os verdadeiros Mestres, pedagogos, técnicos e investigadores permanentes. Para estes, o canudo serviu apenas para satisfação de amigos, vizinhos e familiares e para preencher os requisitos de uma sociedade burocratizada. A esses, a ausência de diploma nada significaria. O seu diploma genuíno está dentro do seu cérebro, no seu sangue, na sua prática, no repetir o que sabe e, consequentemente, a ser mais enriquecido e mais qualificado. O pergaminho de caprichosa letra gótica ou de caracteres orientais rendilhados, será mais considerado como uma fronteira, uma metafísica a ultrapassar.
Há praticantes, verdadeiros Mestres, que há muito enriqueceram o que e como lhes foi ensinado, sobrepondo a essa prática e a esses conhecimentos, outros de valor mais profundo, actualizado e eficiente.
Entretanto, existem os que deixam ficar a contemplar, refastelados, o venerado "papiro" encaixilhado com penas de pavão, lisonjeando-se narcisísticos do "esforço dispendioso" (nunca em quantidade investida) para alcançar tão precioso galardão. A diferença entre estas duas classes de técnicos é abissal!
Uns quedam-se satisfeitos com a sua omni-sapiência, com a sua poltrona na bancada dos senhores quando afinal não passam de escravos do diploma!
Os que pretendem evoluir (talvez até nem tenham brilhado muito) possuem em si o dom da persistência indómita e, ao invés dos acomodátícos, praticam, estudam, aperfeiçoam-se, ensinam, trocam experiências, investigam e, ao contribuírem eles próprios para esse avanço técnico, são dignos de serem tratados por Sensei (sem necessitarem do Dr. antes do nome ou de títulos como Renshi, Kyoshi, Hanshi ou Shihan).
Estar preparado para demonstrar as suas aptidões e capacidades, mesmo que esse momento nunca aconteça, é um misticismo superior, que, ou se nasce com ele, ou se alcança após muitos anos de esforço e coloca esses praticantes num estádio superlativo.
Se só raciocinarmos em termos de binómios de trabalho recompensa, mais esforço prémio especial e produção excepcional consagração e glória, então é porque o nosso esquema mental já está petrificado e é de facto o mundo que gira em torno do nosso "Eu".
Um indivíduo que possui os cromossomas do sublime e da busca da verdade procura constantemente evoluir, aplica-se e aperfeiçoa-se para poder contribuir em prol dos que o rodeiam, em oposição aos que, encerrados na sua casca de ostra, esperam obter administrativamente benesses e fama graças aos louros que lhe foram concedidos.
Abstrair-se dos diplomas, despojar-se da graduação, é prova de independência, de uma vivência pura, de uma experiência sã e honesta, de valor intrínseco, mas só pode ser tornado realidade por aqueles que estão constantemente a valorizar o seu arquivo interior e a compartilhá-lo.
O substrato desse activo (o tal que nem a traça corrói, nem os ladrões roubam ou o fogo destrói) avança, ele próprio, rumo ao que é superior e inalienável.
Ignoremos pois os Diplomas! Encaremos a realidade!
Um Abraço e Bons Treinos
SHOGUN
:roll: :lol:
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