Autor Tópico: kanku dai  (Lida 2097 vezes)

Offline Arivaldo

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kanku dai
« Online: Dezembro 08, 2015, 16:12:11 »
Análise do Kanku dai...



Offline PSekiMG

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  • Não existe atitude ofensiva no Karate ― Shoto.
Re:kanku dai
« Resposta #1 Online: Dezembro 08, 2015, 18:08:05 »
Osu,

No meu ponto de vista, alguns os japoneses continuam transmitindo ao mundo uma plástica inatingível ao exemplificarem as aplicações dos movimentos do Shotokan. É certo que as aplicações demonstradas em vídeo são esteticamente perfeitas. Aliás, todas as dicas técnicas são precisamente eficazes. Entretanto, minha ressalva sempre se encontra na aplicabilidade concreta do Kata.

Uma das grandes falhas no Shotokan é pressupor que toda ofensiva será realizada utilizando técnicas do mesmo estilo. No vídeo em comento, esta observação é claramente percebida. Obviamente, as análises estão inseridas num padrão didático para quem treina esta modalidade de Karate, mas penso que o público alvo das mesmas são Yudansha, motivo pelo qual discordo analiticamente da proposição.

As análises do vídeo em nada diferem das inúmeras recomendações encontradas em livros sobre o Kata em específico. Isto, pois os frames são muito estéticos e não possuem a "vibração" almejada, principalmente se tratando de vídeo (som e imagem), motivo pelo qual se conclui ser mais um material publicitário.

JKA que o diga: há "séculos" vem repetindo o mesmo "mantra" desde M. Nakayama Sensei. Muitos movimentos hoje já possuem interpretações, aplicações mais contundentes, motivo pelo qual suas demonstrações serviam apenas para a "imaginação" na hora da execução.



O mesmo padrão é seguido por outras nacionalidades, principalmente no âmbito esportivo. As aplicações mais parecem coreografias de filmes de luta do que algo a ser levado a sério.



Adiante, um dos poucos vídeos onde é possível perceber alguma tentativa real para aplicar as técnicas do Kata. Se concordo com tudo? Não. Contudo, nele pelo menos há a vontade e intuito para "tirar o plástico" e mostrar algo mais auferível.



Certamente, "nem tudo são flores". Os movimentos são extremamente rudes aos olhos nipônicos, mas são honestos. Há algumas aplicações que ainda são maquiagens para lacunas de interpretação. O próprio estudo do Kata é difícil, pois é preciso imaginar a aplicabilidade da época e confrontar com as necessidades da atualidade.

De toda forma, acredito ter jogado lenha na fogueira (e queimado alguns conceitos ou preconceitos, kkk) para que este tópico seja o mais produtivo possível!

Osu.
« Última modificação: Dezembro 08, 2015, 18:17:10 por PSekiMG »
A força física sem respeito nada mais é que força bruta, e para os seres humanos não tem nenhum valor ― Shoto.

Offline Eros José Sanches

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Re:kanku dai
« Resposta #2 Online: Dezembro 09, 2015, 00:39:38 »
Osu!

Excelente tópico.
Sobre o vídeo da JKA, concordo com o PSekiMG que a técnica é absolutamente perfeita.
Fica óbvio porém, a realização da sequência plástica dos movimentos, milimetricamente dispostos para a competição, ou seja, para exibição pública. Isso na questão de ritmo dos movimentos, o que eu chamo de "expressão individual do Kata" ou "vivência individual do Kata".

No que concerne aos conceitos técnicos e às possíveis aplicações, acho os primeiros inquestionáveis e os segundos plausíveis.
Hoje no Karate-dō muito se discute o Bunkai, ou as "técnicas escondidas" por trás dos movimentos. Sem entrar na questão das lendas, acredito que questionamentos sempre serão importantes.

Acho interessante as colocações do PSekiMG quando aborda a espinhosa questão do Shōtōkan versus Shōtōkan. Realmente, crer que o oponente sempre atacará como se fosse outro praticante da mesma arte, ou pior, do mesmo estilo, é limitar muito nossas possibilidades técnicas reais, e isso, sem dúvida, deve ser bem estudado.

Por outro lado, acredito que a principal problemática dos Bunkai está na deturpação das origens do Karate-dō. O advento do Karate esportivo, criou um "universo paralelo" dentro da arte, que por absoluta aceitação popular acabou se tornando a "realidade paralela" que expressa o Karate de hoje.
Se observarmos os Yakusoku Kumite (Sanbon e Gohon, Ippon Kihon e Jyu Ippon), ou ainda, antes deles o Ten No Kata, vamos ver um único conceito: Ikken Hissatsu, ou se preferirem Todome Waza.
Nos cinco golpes do Gohon, os bloqueios frustram o golpe definitivo, mas quando o defensor realiza o seu ataque, ele é único e definitivo! Os demais, seguem o mesmo princípio.

Acredito ser esse o motivo do porque as interpretações dos Bunkai permanecem as mesmas desde Nakayama-sensei. É que sempre foram concebidas para somente um golpe!
Assim, cada Kyodō dos vários Kata que apresentam um ataque, salvo poucas exceções, definem a luta com aquele agressor específico.

Toda vez que vejo o uso de técnicas de Kuzushi (desequilibrio) serem aplicadas após um ataque contundente, fico imaginando como o adversário ainda está em pé para necessitar sofrer a técnica de Kuzushi (?!).
No próprio vídeo do Sensei Didier Lupo, nos Kyodō 27-31 ele é capaz de aplicar um Yoko-geri, seguido de um Empi, depois um Fumikomi, depois um Empi na nuca (?!) e ainda faz a tão sonhada "finalização" com um Shime Waza (estrangulamento). No mesmo adversário???

Nakayama-sensei, ironicamente, criou esse "universo paralelo" atual. mas à sua época ele respeitou o Ikken Hissatsu por meio do Shobu Ippon. Hoje... "mata-se" inúmeras vezes...

Não sou contra, de forma alguma, as técnicas de Kuzushi, Shime, Nage-waza! Só acho que elas devem ser empregadas com coerência. Vamos ver as palavras de O'Sensei Funakoshi em "Karate Kyōhan"(Cultrix 2014, pág. 245):

[...] nem sempre é necessário usar técnicas vigorosas para bater, empurrar e chutar; é necessário adaptar-se a cada situação, e as técnicas mais suaves como as de arremesso podem ser usadas [...]

Depreende-se daí que projeções devem ser aplicadas para evitar uma lesão grave ao oponente.
E mais adiante, na mesma página:

Tenha em mente que a essência do Karate pode ser encontrada num simples golpe ou chute, e nunca se deve deixar-se agarrar ou ficar agarrado a um oponente; contudo, tenha cuidado para não ser derrotado pela preocupação em arremessar um oponente ou aplicar nele uma chave em uma articulação.

Com isso amigos, acredito que esse "universo paralelo", criado pela competição esportiva, seja a chamada "trocação". E não tenho dúvidas que o Karate-dō não é trocação.

Osu.
"A popularidade internacional alcançada pelo Karate-do é recente, mas essa é uma popularidade que os professores de Karate devem fomentar e usar com grande cuidado" (Gichin Funakoshi, 1956)

Offline PSekiMG

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Re:kanku dai
« Resposta #3 Online: Dezembro 09, 2015, 10:07:05 »
Osu,

Eu disse que o tópico será produtivo!

A grande questão do Kata (ou Bunkai) é casar o útil ao agradável, ou seja, valer-se ao máximo da "forma" (sim, pois esta é quem estabelece movimentos rápidos, vigorosos e centrados), mas sem se restringir à mera coreografia.

É normal, por exemplo, desprender-se da "forma"? Sim, isso é possível. Inúmeros Sensei executam os Kata do Shotokan de maneira que um iniciante desconfiará de sua validade ou semelhança com os "postulados". Contudo, o que não se pode fazer é abandonar a essência. Desprender-se da "forma" não significa alterar o Kata ou fazer movimentos errados. Pelo contrário! É executar cada movimento de forma única e natural. Ninguém anda pensando em andar, certo? Logicamente, alguém que esteja controlando ritmo cardíaco numa caminhada, por exemplo, certamente pensará sobre cada passo. Contudo, a tendência é fazer com que o exercício se torne o mais natural possível com o passar do tempo. Assim, "o caminho da 'forma' é perder a 'forma'".

As competições, questão muito bem colocada, Eros, têm deformado princípios primordiais do Kata. Sobre isso, não há o que discutir. É certo que a busca pelo "golpe único" é uma meta constante na mente de quem pratica o Shotokan. Aliás, não existem Kata com múltiplos golpes neste estilo. Há muitas movimentações rápidas, mas todas com objetivos muito imediatos para se tornarem múltiplos. A "trocação" não é uma tática, muito menos pode fazer parte de qualquer estratégia. É um recurso último - se é que pode ser considerado um "recurso" (creio que não).

Por fim, ainda sobre a "trocação", como imaginar um Kata de múltiplos oponentes? Nisto a Nihon Karate Kyokai é quem define o ideal imaginário para se vislumbrar a situação na qual o Kata fora concebido. É possível melhorar tais interpretações? Sim, com certeza! Como digo, inúmero Sensei já possuem visualizações mais contundentes sobre os movimento do Kata. Contudo, quanto mais "plástico" for a sua execução, mais distante da realidade ele estará.

Não é cada movimento um flash.
É cada movimento um golpe definitivo.

Osu.
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Offline GEM

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Re:kanku dai
« Resposta #4 Online: Dezembro 10, 2015, 14:37:12 »
Já que a questão é bunkai, gosto muito dos videos do Iain Abernethy



OSS
Karate Wado Ryu