Comecei a fazer boxe recentemente para servir de complemento para meu karate. Faz um tempo que tenho sentido vontade de treinar tal arte, e a princÃpio gostei bastante.Porém a primeira coisa que notei foi a inexistencia do conceito de "kime" no boxe. Enquanto no kihon do karate o individuo soqueia, contrai o corpo rapidamente e em seguida relaxa e aguarda a contagem do proximo soco, no boxe o praticante bate e volta, como chicote. Não existe "trancada".Outro aspecto é a base, no Karate a coluna fica reta e os gluteos pra "dentro", enquanto no boxe a coluna fica ligeiramente curva e a bunda fica "sentada" no ar.Como conciliar essas diferenças tao marcantes?Algum karateca do fórum que tenha experiencia com boxe ou com alguma arte que possua o mesmo estilo de socos que o boxe (ex.: muay thai) poderia me dar umas dicas e informaçoes?
Eu vi um vÃdeo, não sei se foi aqui ou em outro site, de uma luta de rua. O grandão quebra um cara do seu teamnho usando o boxe. Depois entra um cara com uns 20 kilos a menos. Esse cara parecia mesclar bem o karate e o boxe. Usava o boxe quando estava mais próximo e o karate quando estava numa distancia maior. Ele simplesmente nocauteou o grandão usando guiako's na barriga do cara e jabs cruzado na cabeça. O cara tinha a rapidez e a movimentação caracterisca do karate.
Gon, eu acho que o problema está nos diferentes objetivos de cada sistema. No boxe ou boxe tai, o princÃpio é ir minando as defesas e energias do oponente que, sem condições, comete um erro, se expõe e um golpe finalizador acontece.No Karate isso não é uma opção. Primeiro porque não treinamos para isso e, se tentarmos, vamos perder, segundo porque foi desenvolvido para defesa pessoal e não embates desportivos e, portanto, o golpe incapacitante é primordial. Alguns falam, inclusive de ataque preemptivo e até defendem que isso não conflita com "Karate ni sente nashi". Eu concordo.Uma vez, ha alguns anos, o Lyoto estava na minha casa de visita aqui no Rio treinando com o Pedro (Rizzo). Comentava a dificuldade que tinha ao treinar com o Pedro. Expliquei pra ele que, como somos amigos de infância e eu sendo 7 anos mais velho, o Pedro cresceu sabendo como lidar com um karate-ka e, por isso, neutralizava o jogo dele (além da diferença de peso, claro), mas o fator primordial era o "kime".O kime (conceito controverso do qual eu tenho minhas próprias definições, mas não vem ao caso agora) é muito dispendioso, em termos de energia. Agente cansa muito. Dentro do princÃpio do Karate é válido pois, como Yahara Sensei define muito bem, todo movimento do karate-ka é um sutemi waza, no sentido que, ao mergulhar preparado para morrer, não nos preocupamos se vamos cansar ou não. É preto ou branco. Erro ou acerto. Vida ou morte.Por isso ele defende que cada técnica deve ser aplicada com o máximo de comprometimento e, como dirÃamos, sem que houvesse amanhã. Mas e se houver? Como ficamos? E o zanshin?Bem, aà a porca torce o rabo, pois golpes com kime cansam demais e, no caso de uma luta mais parelha, onde é preciso ir aguentando o tranco até, se der, nocautear. Os golpes do boxe, nesse caso, servem melhor para esse propósito.Muhamad Ali sempre dizia que os golpes que mais cansam são os que erramos e passam no vazio e olha que ele não sabia o que é kime...Meu humilde conselho é treinar as duas formas e não confundÃ-las. Use o kime (se quiser) para finalizar e os golpes de boxe para ir minando, se for necessário, até poder definir a luta, senão, vai abrir o bico e, aÃ, já era.OSS!