Este chute existe ou não no Muay-Thai?
PossÃvel resposta:
Nélio "Naja", no final da década de 70, "criou" o Muay-Thai no Brasil,
especificamente no RJ e no PR.
No PR, começou em Curitiba, em uma academia de karatê Goju-Ryu,
que ficava em frente a um cinema, Cine Lido, na Ermelino de Leão.
Ele ensinava o "Boxe Tailandês" e seu irmão ensinava Luta Livre.
Não lembro direito se era irmão ou não. Os dois raspavam a cabeça.
Em seguida, com o impacto de apresentações incomuns -
kimonos pretos, quebra de telhas (muitas, feitas por ele mesmo)
com a cabeça, saltos sobre filas de lutadores para a quebra de
telha lá no final, lutas com nocautes na própria apresentação, Nélio
conseguiu uma legião de seguidores, o que lhe permitiu abrir sua
própria academia, se não me engano na Carlos de Cavalho.
Mas na nova academia, já havia "som ambiente", coisa inédita
em academias de luta em Curitiba, um ringue logo na entrada,
fileiras e mais fileiras de sacos de soco/chute, enfim, uma infraestrutura
que até hoje muita academia não tem. Ele dava um macacão,
estilo frentista de posto de gasolina para os graduados usarem
e andarem pela rua... afff que charme. Ninguém se metia com
esta gente.
Mas... já lá na época do kimono preto, alguns alunos se destacaram,
um tal de Rudimar, outro um tal de Noguchi e mais outros irrelevantes
ao foco da história aqui.
Nélio sempre foi um cara com muito carisma com os jovens.
Eu mesmo, franzino, cheguei lá pra saber preços e tudo mais, ele
me deu adesivos, passeou comigo pela academia, pediu pra eu
experimentar as luvas, socar os sacos, enfim, tudo o que um guri
gostaria de fazer. Tinha uma lábia afiada.
E era malandro também. Nélio não aprendeu Muay-Thai. Ele
era faixa preta de Tae-Kwon-Do, coisa que ele nunca escondeu,
pois deixava logo na frente da academia, uma foto com ele dando
um golpe equivalente ao nosso yoko-gueri-queagui, erguendo um
adversário do chão. Com esse conhecimento, ele juntou mais
os fundamentos do boxe e pronto. "Criou" o Boxe Tailandês,
chamado mais popularmente depois de Muay-Thai.
E tal luta era isso mesmo: a mistura de boxe com Tae-Kwon-Do,
somada a ashi-barais. Podem puxar as lutas do começo da década
de oitenta, tanto no Rio quanto em Curitiba, que não havia nocautes,
praticamente com cotoveladas ou joelhadas. O que dizer de chute
com canela. E foi este ensinamento que o ex-aluno Rudimar levou
para fundar sua academia, uma tal de Chute-Boxe, onde Anderson
Silva treinou.
O aquecimento nas academias, o alongamento de pernas,
TUDO, era realizado como no Tae-Kwon-Do. Soco giratório era
chamado de "sétima", em alusão à sétima forma (uma espécie
de kihon do TKD). Um dos chutes de aquecimento que era dado
era o ap-tchagui:
http://www.taekwondo-meylan.com/image/techniques/Tchagui/aptchagui.jpg Tempos e tempos depois... a rapaziada começou a disfarçar melhor
estas origens do TKD e começaram intercâmbios e a coisa foi
mudando o estilo.
Anderson Silva iniciou uma das suas lutas no TKD, indo para a
Chute Boxe na faixa verda (branca, amarela, verde, azul, vermelha e
preta). Rafael Cordeiro, o grande ex-treinador da Chute-Boxe, que
treinou Anderson juntamente com Rudimar, entrou na Chute Boxe,
com 13 anos, na faixa vermelha de TKD.
Face ao exposto, sou obrigado a propor duas conclusões:
1) Anderson Silva mente ao dizer que foi Seagal que lhe ensinou isso,
pois este chute era, à época, ensinado na Chute Boxe e no TKD
(eu sou testemunha, pois treinei nesta época). É possÃvel?
Claro que é. Babalú, um creonte do Marco Ruas, disse que
ele nunca aprendeu nada com ele (depois de ter aprendido
todas as técnicas de luta em pé);
2) Como no TKD, no Muay-Thai moderno e no Karatê, este chute
não costuma ser muito usado. No Karatê, os juÃzes nem ponto
dão por entender que são usados para "empurrões".
[]´s
BigBoy